Abertura XXI Capítulo Geral

Queridas irmãs capitulares:

O Governo Geral recebe-vos cordialmente e vos dá uma afetuosa boas vindas a cada uma das que estais convocadas para celebrar este acontecimento congregacional – Berta, Beatriz, Graciela, Teresita, Graça, Divina, Lourdes, Fátima, Mª Victoria, Mariló, Loli, Mª Ángeles, Mª José, Carmen, Luz Mª, Mª Isabel, Beatriz, Encarna, Sandra, María, Alfonsa, Angie, Elmor, María, Teresita, Nelcin, Cinta, Mercedes, Myrna, María, Kity, Carmen- e a quantas colaborarão na boa marcha do Capítulo, como Momoko e Carlota como tradutoras, Concha Gómez e Nuria Rodriguez como secretárias.

Abramos nossos braços em sinal de acolhida, olhemos umas para as outras. Somos uma comunidade de irmãs, somos diferentes, plurais, umas com experiências de ter participado em Capítulos e outras é a sua primeira vez, todas Escravas do Divino Coração, eleitas por nossas irmãs para celebrar o XXI Capítulo geral.

“Vamos de começo em começo, através de começos sem fim”, escrevia São Gregório de Nisa lá pelo século IV. A vida é sempre começar de novo, sempre estamos a recomeçar, e na nossa história, cada capítulo é, sem dúvida, “um novo começo”: busca conjunta, abertura aos sinais dos tempos, escuta atenta e aberta a Deus e às irmãs, oportunidades que se oferecem, vias que se abrem ante nossos olhar, possibilidades para descobrir e explorar, novos caminhos para percorrer…

Queremos iniciar o XXI Capítulo geral da Congregação em Coria, lugar onde nasceu a Congregação e onde hoje, depois de 137 anos, somos convidadas a “um novo nascimento congregacional”.

“O dia 26 de Julho de 1885, festa da gloriosa Santa Ana, Mãe de Nossa Senhora, pode se falar que nasceu a Congregação das Escravas do Divino Coração de Jesus.Depois de celebrar-se na Igreja de Santa Maria, ou seja no Sacrário da Catedral solene função matutina, na que predicou o Exmo. Sr. D. Marcelo Spínola e Maestre, Bispo da Diocese, expondo ao numeroso concurso, que enchia o templo, a ideia que fazia surgir do nada o novo instituto, e os meios com que para realiza-la contava, deu-se no Palácio Episcopal uma abundante comida às dezanove meninas pobres, que deviam ser as primeiras alunas das Escravas; e pela tarde, obtida a bênção do Prelado, congregaram-se estas a fim de começar sua vida religiosa e de sacrifício numa modesta casa contigua à Capela de São Bento, cedida pelo Bispo à Congregação, e dedicada por ela ao Sagrado Coração de Jesus…” (Ata fundacional)

Fazer memória do passado nos faz bem.

As raízes estão no passado e não se poder cortar a trama da história dum povo, de um grupo humano, da Congregação que é em essência libertadora. Um povo sem história é um povo sem raízes. A memória para ser autêntica não pode fazer-se em chave jurídica ou nostálgica, mas em chave profética, como Palavra de Deus que nos desinstala e interpela.

O grande contributo do povo de Israel é reconhecer publicamente que Deus não está dormido, mas que está sempre dando vida onde as pessoas semeamos escravidão e tragédias.

Lembrar nossas origens não é uma chamada a reproduzir nostalgia e romanticamente a primeira comunidade de Escravas ao redor do poço. Convoca-se-nos a atualizar a experiência das primeiras Escravas na primeira metade do século XXI, quando um novo mundo está a formar-se.

Sim, irmãs, um novo mundo está a formar-se, do qual não sabemos quase nada, somente que é diferente ao que temos vivido até agora. Este mundo se está se formando em meio de acontecimentos desconcertantes como a pandemia gerada pela Covid-19, as múltiplas guerras geradas pelas pessoas…, e as consequências que estão a ter a nível planetário, sobre todo, nos povos e pessoas mais vulneráveis na terra que pisamos e habitamos… Deus nos fala, nos chama e quer que colaboremos com Ele.

O caminho que estamos a percorrer como Congregação e como Igreja é um caminho onde guiadas pelo Espírito estamos chamadas “a uma comunhão mais profunda, uma participação mais plena e uma maior abertura para cumprir nossa missão no mundo”. (Papa Francisco, Discurso na abertura do Sínodo dos jovens, 3 de Outubro de 2018).

-   Comunhão mais profunda…

A Vida Religiosa é um mistério de comunhão. Deus nos congrega de diferentes povos e culturas para viver em comunhão o seguimento de Cristo.

Não tenhamos medo ao novo, ao diferente, à diversidade, à pluralidade, não é aí, na busca sincera, o diálogo entre olhares encontrado, onde se faz mais palpável a comunhão profunda, que a pluralidade é riqueza e a diversidade um presente?

Valorizemos a diversidade entre nós, escutemos todas as vozes, acolhamos as opiniões diversas… assim descobriremos que é o Senhor quem faz de nós um só corpo.

- Participação mais plena …

A participação é uma exigência de nossa profissão religiosa. Todas estamos chamadas a participar na vida e missão da Congregação. Se falta a participação real de cada irmã, as palavras sobre a comunhão correm o risco de permanecer como intenções piedosas.

Escutemos como “palavra sagrada” as contribuições que chegam de toda a Congregação, deixemo-nos inspirar por elas.

Criemos entre todas espaços que favoreçam entre nós a escuta empática, o diálogo em liberdade, a aprender com humildade a comunicar-nos sem medo nem reservas porque o Espírito sopra onde quer. Um espaço onde todas nos sintamos em casa e podamos participar plenamente.

Todas temos direito a ser escutadas, ao igual que todas temos o direito a falar. O diálogo depende da valentia tanto para falar como para escutar. Acolher o que as irmãs falam como uma forma onde o Espírito pode falar pelo bem de todas.

O diálogo nos leva à novidade, a estar dispostas a mudar nossas opiniões baseando-nos no que escutamos das outras.

- Maior abertura para cumprir nossa missão no mundo …

Nossas irmãs pedem-nos que estejamos abertas ao Espírito, o verdadeiro protagonista deste acontecimento congregacional.

Abertura que possibilite sua ação mais além de nós próprias e faça possível a escuta a todo e a todas. Sabemos que muitas vezes a verdade e a luz afloram quando e desde onde menos se espera, de aí a necessidade de abrir-nos, de escutar profundamente desde o coração e a oração.

Abertura ao Espírito, sem ideias pré-fabricadas de como deve ser a Congregação hoje. Ser fieis hoje ao Carisma recebido passa por abrir-nos com audácia e criatividade às necessidades do nosso mundo, discernir o que o Senhor nos fala para responde-lhe com o melhor de nós mesmas, como comunidade.

Façamos do Capítulo um exercício de discernimento pois estamos convictas de que Deus está obrando no mundo e estamos chamadas a escutar o que o Espírito nos inspira. Ao escutar, estamos a fazer o que Deus faz: escutar o grito de seu povo.

O ícone da Visitação que nos tem acompanhado no caminho pré-capitular visualiza dois maternidades extraordinárias. O expressa muito bonito a filósofa italiana Antonella Lumini, eremita da cidade, como ela própria se nomeia.

Maria expressa o acordar da inocência originária que tem permanecido incontaminada desde o princípio e preservada no íntimo da humanidade (...)Isabel, porém, a anciã e estéril que chega a ser mãe por graça mais além de toda possibilidade, se expressa como figura da humanidade seca e cansada, cujo fruto, já inesperado, brota como destilado da moldagem final para constituir assim o germe vivo sobre o qual poderá implantar-se o novo.”

Para que estas duas maternidades pudessem realizar-se, precisava-mos tanto o SIM de Maria, expressão da sua abertura ao dom do Espírito, com o NÃO de Isabel (Não!, chamar-se-á João), que quebrou com a tradição do sempre foi assim, para ser fiel à vontade de Deus. De facto, João significa o que é fiel.

Deixemo-nos inspirar pela valentia destas duas mulheres de fé, Maria e Isabel. Que elas acompanhem nosso discernimento e nos transmitam a coragem para saber dizer SIM ou NÃO, segundo a inspiração do Espírito, e ser assim capazes de gerar vida nova.

Com este desejo, hoje, 12 de Julho de 2022, em Coria, declaro oficialmente aberto o XXI Capítulo Geral ordinário da nossa Congregação.

Rosario Fernández Martos, adc

Superiora Geral